domingo, 13 de março de 2011

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O quociente e a incógnita






"Às folhas tantas do livro de matemática,

um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base.

Uma figura ímpar olhos rombóides, boca trapezóide,

corpo ortogonal, seios esferóides. Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito.

"Quem és tu?" - indagou ele com ânsia radical.

"Eu sou a soma dos quadrados dos catetos,

mas pode me chamar de hipotenusa".

E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética,

corresponde a almas irmãs, primos entre-si.

E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz

numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas,

curvas, círculos e linhas senoidais.

Nos jardins da quarta dimensão,

escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas

e os exegetas do universo finito.

Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim,

resolveram se casar, constituir um lar mais que um lar,

uma perpendicular.

Convidaram os padrinhos:

o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro,

sonhando com uma felicicdade integral e diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos

e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.

Foi então que surgiu o máximo divisor comum,

frequentador de círculos concêntricos viciosos,

ofereceu-lhe,

a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.

Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.

Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema,

ele era a fração mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade

e tudo que era espúrio passou a ser moralidade,

como, aliás, em qualquer Sociedade ..."



Millôr Fernandes

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interprete essa , usando a sua imaginação

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